Inscrições para o 34.º Fórum de Dermatologia abertas até final de outubro

Nos dias 25 e 26 de novembro, o centro de congressos da Alfândega do Porto recebe o 34.º Fórum de Dermatologia. As inscrições decorrem até 31 de outubro.

Com simpósios, sessões interativas e apresentação de posters, este é um evento cujos temas vão deste “Novidades terapêuticas na acne e na rosácea”, “Casos clínicos em patologia genital e infeções sexualmente transmissíveis”, “O que é preciso saber sobre a psoríase na infância” ou “Alopécias na adolescência – diagnóstico e tratamento”.

Saiba mais sobre o evento, aqui.

Diogo Matos: Psoríase e o impacto da adesão à terapêutica na qualidade de vida dos doentes

Leia o artigo de opinião da autoria de Diogo Matos, dermatologista no Hospital da Luz de Setúbal, acerca da Psoríase e das implicações no quotidiano de quem vive com a doença e em como uma abordagem médica multidisciplinar pode fazer toda a diferença.

A Psoríase, dada a sua prevalência (cerca de 250 mil portugueses) e a sua cronicidade, é um dos principais motivos de consulta de Dermatologia, sendo também uma patologia cutânea muito frequente nos cuidados de saúde primários.

O seu diagnóstico é, na maioria dos casos, linear. As lesões cutâneas espessas, eritematosas e descamativas (branca-prateada) são patognomónicas, sendo que a distribuição das mesmas, predominantemente nos cotovelos, joelhos e couro cabeludo, também facilita o diagnóstico.

Todavia, é de extrema importância a abordagem da Psoríase como uma doença sistémica e global. É mandatório ver para além do seu impacto estético, embora este por si só possa impactar seriamente a vida e autoimagem dos doentes, levando por vezes a quadros de ansiedade e/ou depressivos, sem que haja uma relação direta com a gravidade da doença. Cerca de 10-30% dos doentes têm Artrite Psoriática, com artralgias, artrite e rigidez, tornando fundamental a sua pesquisa em todos os doentes com Psoríase, bem como o ensino de sinais de alarme, para que o doente consiga identificar precocemente o envolvimento articular.

Adicionalmente, sabe-se que os doentes com Psoríase têm mais frequentemente doenças cardiovasculares, nomeadamente Hipertensão Arterial, e metabólicas (Dislipidémia, obesidade abdominal e Diabetes ou pré-Diabetes-resistência à insulina). De uma forma global, a Psoríase é um fator de risco independente para a síndrome metabólica.

Assim, a visão do doente psoriático como um todo, e o seu  seguimento e tratamento transversal e multidisciplinar, com o objetivo de controlar, não apenas as lesões cutâneas, mas todas as comorbilidades sistémicas, as quais podem influenciar negativamente a sua esperança e qualidade de vida.

Os tratamentos disponíveis têm sofrido uma evolução considerável sendo raro não se conseguir atingir um sucesso terapêutico satisfatório, tanto para o doente, como para o médico assistente. Desde os fármacos tópicos, frequentemente suficientes no controlo da doença mais ligeira, até aos fármacos sistémicos (orais ou injetáveis), o armamentário terapêutico tem vindo a aumentar em número e eficácia.

Contudo, tão ou mais importante do que a efetividade dos tratamentos disponíveis, é a adesão à terapêutica. Sem esta, o controlo da doença fica muito limitado. Diversos fatores contribuem para esta adesão, nomeadamente a comodidade e simplificação posológica, mas talvez o mais importante seja o envolvimento e a abordagem multidisciplinar, com uma comunicação uníssona, embora complementar. Toda a equipa que segue o doente com Psoríase deve estabelecer esforços para que as suas abordagens terapêuticas sejam implementadas, assim como da restante equipa. Só assim é possível um controlo global destes doentes e modificar positiva e significativamente a sua vida.

Deteção precoce do Cancro Cutâneo nos Cuidados de Saúde Primários

Leia o artigo de opinião da autoria de Mariana Mira, da USF Samora Correia, no ACES-Estuario do Tejo, acerca da bolsa de investigação clínica em Oncologia nos Cuidados de Saúde Primários, que recebeu a 5 de julho de 2022, pelo trabalho “Deteção Precoce do Cancro Cutâneo nos Cuidados de Saúde Primários”.  Saiba mais na edição 134 do Jornal Médico.

O cancro cutâneo é um dos tipos de cancro com maior crescimento nos últimos anos, constituindo um problema de Saúde Pública a nível mundial, principalmente na sociedade ocidental[1-2]. Constitui atualmente a neoplasia maligna mais frequente na população europeia. É classificado em dois grandes grupos: os melanomas malignos (MM, os mais agressivos e letais) e os não-melanomas, que incluem o carcinoma espino-celular (CEC, agressivo e de rápida evolução) e o carcinoma basocelular (CBC, baixa malignidade e evolução lenta)[2].

Em Portugal, são diagnosticados anualmente cerca de 12.000 novos casos de cancro da pele (8-10 % serão MM; 25 % CEC; 65 % CBC), o que corresponde a um terço da totalidade dos cancros no nosso país e afetando uma em cada sete pessoas ao longo da vida[2]. Estima-se que os vários tipos de cancro cutâneo conduzem a mais de 400 mortes anuais, a maioria causada pelo MM (~70 %), o tipo de cancro de pele mais grave e letal quando não detetado precocemente[2].

Travar a tendência de aumento do cancro da pele é, portanto, fundamental para a Saúde Pública e para a saúde individual de cada um. Por um lado, a Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo (APCC) alerta para o facto de 90 % das mortes por cancro de pele serem evitáveis, sublinhando que os custos em tratamento para os serviços de saúde rondam os €20 milhões por ano[3]. Por outro lado, a pandemia limitou a campanha do Euromelanoma[4] – uma ação conjunta da APCC e da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (SPDV), com a chancela da Direcção-Geral da Saúde – impe[1]dindo as ações de observação e rastreio presencial.

De acordo com o Dr. Ricardo Vieira (Secretário geral da APCC) “temos de arranjar mecanismos para que estes cancros sejam de facto evitados. O diagnóstico precoce, numa primeira abordagem, e o controlo dos fatores de risco são essenciais”[3]. Alguns indivíduos têm risco maior do que outros para o aparecimento de MM, nomeadamente os de pele clara, sardenta, ruivos e loiros; indivíduos com muitos nevos (fototipos 1 e 2); exposição prolongada e irregular ao sol, em especial na infância ou adolescência, bem como exposição a solários ou em atividades agrícolas continuadas (como ainda é comum na população onde se insere a nossa USF); história de queimaduras solares; e antecedentes patológicos e/ou familiares de cancro de pele[5-7].

Neste sentido, as campanhas de rastreio do cancro cutâneo são habitualmente dirigidas a estes indivíduos com maior risco para o aparecimento de lesões malignas da pele. A imunossupressão é também um importante fator adicional de risco para a indução de cancro de pele, como evidenciado por estudos em imunossuprimidos com cancro cutâneo, pelo que deveremos estar igualmente atentos ao aparecimento de lesões suspeitas nestes doentes[8-9]. A própria radiação UV é imunossupressora, para além do seu carácter mutagénico[9-10]. Não obstante, os indivíduos que auto-detetem nevos com características suspeitas a partir das campanhas de educação para a saúde, baseadas no ensino da metodologia ABCDE (designadamente, entendem- -se por características suspeitas: Assimetria; Bordos [ir[1]regulares, mal-definidos]; Cor [escurecimento, perda de cor, múltiplas cores – como azul, vermelho, branco, violáceo, cinzento]; Diâmetro superior a 6 mm; e Evolução [elevação e mudança da lesão])[3, 6, 11], devem igualmente fazer parte do rastreio precoce do cancro cutâneo, mesmo que não tenham fatores de risco.

É também de extrema importância estar atento ao aparecimento de lesões pré-cancerosas, sendo as mais frequentes as queratoses actínicas (precursoras do CEC) e as leucoplasias[12-13]. Os nevos atípicos, sobretudo na síndrome de nevos atípicos ou de aparecimento recente, os lentigos atípicos e os nevos congénitos atípicos ou de grandes dimensões, constituem sinais de risco acrescido para o MM[5, 7, 14-15]. Para o rastreio e deteção do cancro cutâneo é comum recorrer-se à dermatoscopia.

Esta técnica não invasiva permite o reconhecimento de lesões não reconhecíveis a olho nu, possibilitando um incremento da precisão diagnóstica até 35 %[16-17]. A aplicação clínica da mnemónica internacional ABCDE referida acima pode melhorar a deteção de lesões suspeitas com uma sensibilidade de 92 a 100 % e especificidade de 98 % para a deteção de MM[11]. Poderá ser adicionalmente aplicada uma lista de sete critérios, cuja sensibilidade e especificidade rondam, respetiva[1]mente, 79 a 100 % e 30 a 37 %[11]. Uma vez que os CSP são a “porta de entrada” do utente no Serviço Nacional de Saúde, os MF têm uma posição privilegiada na deteção precoce de lesões pré-malignas e malignas, podendo, deste modo, contribuir para a redução da morbilidade e mortalidade do cancro cutâneo e para a melhoria da qualidade de vida dos doentes. Para além disso, os CSP assumem já um papel fundamental na prevenção primária, promovendo mudanças de comportamento por forma a reduzir os fatores de risco modificáveis nesta doença, nomeadamente a redução da exposição solar de risco e a utilização fotoproteção de forma adequada; e devem continuar a atuar na prevenção secundá[1]ria estimulando a realização do auto-exame da pele mensal, medida que se tem revelado também eficaz na deteção precoce de cancro cutâneo[18-19].

Não obstante, têm sido realizados até à data pouco estudos sobre a aplicabilidade do rastreio de cancro cutâneo nos CSP e os consequentes resultados deste rastreio em termos de deteção precoce e outcomes de sobrevida ao diagnóstico de cancro cutâneo, bem como dos custos envolvidos; mais ainda, ensaios clínicos randomizados nesta área são inexistentes. Um dos maiores estudos realizados (595 799 indivíduos rastreados), publicado recentemente, teve lugar na Universidade de Pittsburgh (EUA) entre 2014 e 2018[20] , onde os investigadores destacam que os indivíduos incluídos no rastreio tiveram maior probabilidade de ser diagnosticados com MM in situ (incidência, 30.4 vs. 14.4; hazard ratio [HR], 2.6; 95 % CI, 2.1-3.1) (P<.001) ou MM invasivo de fina espessura (≤1 mm) (incidência, 24.5 vs. 16.1; HR, 1.8; 95 % CI, 1.5-2.2) (P><.001) em comparação com indivíduos não rastreados (dados ajustados para a mesma idade, género e raça). Por outro lado, e apesar de não atingir significância estatística, as taxas de MM espesso (>2 mm e >4 mm) foram mais elevadas nos indivíduos não rastreados em comparação com os rastreados (3.3 vs. 2.7 casos por 100000 pessoas-ano)[20].

Outro estudo igualmente recente, realizado pela Universidade de Missouri (EUA) durante 2 anos, debruçou-se sobre os fatores facilitadores e as barreiras para a implementação do rastreio de MM nos CSP através de sessões de telementoring/telemedicina (projeto Melanoma ECHO-Extension for Community Healthcare Outcomes) [21]. Os investigadores concluíram que à medida que o estudo progrediu os médicos foram adquirindo cada vez mais skills práticos e ganhando confiança no rastreio e diagnóstico de lesões cutâneas; e que as principais barreiras encontradas foram a falta de suporte de administrativos e enfermagem, bem como a falta de tempo[21]. Ambos os estudos sugerem que implementar o rastreio para o cancro de pele nos CSP pode conduzir à deteção precoce desta patologia, levando a melhores outcomes clínicos, mas também ao seu sobrediagnóstico[20]; e que sessões clínicas/telemedicina multidisciplinares são boas ferramentas para o desenvolvimento de skills de rastreio dermatológico e empowerment dos médicos ao nível dos CSP[21]. Uma revisão baseada na evidência publicada em 2020[22], mostrou que o rastreio do cancro cutâneo por inspeção visual realizado por médicos dos CSP apresenta 40 % de sensibilidade e 86 % de especificidade comparado com 49 % e 98 %, respetivamente, se realiza[1]do por dermatologistas ou cirurgiões plásticos. Da[1]dos deste estudo, indicam que o rastreio do cancro cutâneo por inspeção visual nos CSP está associado a um número elevado de casos falsos-positivos da seguinte forma: 28 biópsias por cada caso de MM detetado; 9 a 10 biópsias por cada CBC; 28 a 56 biopsias por cada CEC; sendo estes valores mais altos para população feminina do que para a masculina.

Este rastreio por inspeção visual nos CSP levou, no geral, a um aumento de 41 % de deteção de cancro cutâneo, mas sem impacto confirmado na mortalidade por MM, tendo sido detetados mais MM de fina espessura[22]. Por último, os autores concluem que a taxa de falsos-positivos (e a consequente redução no número de biópsias realizadas), bem como o impacto na deteção precoce do cancro cutâneo talvez sejam melhorados se forem aplicadas estratégias de rastreio baseadas na dermatoscopia[22]. Em Portugal, para além da campanha do Euromelanoma[4], existe apenas um estudo transversal publicado até à data sobre o rastreio do cancro da pele nos CSP[23], tendo intervencionados um total de 282 utentes, ao longo de 22 meses (Julho/2008 a Maio/2010, no o Centro de Saúde de Amarante [USF S. Gonçalo]) com recurso a procedimentos invasivos mínimos para de exérese de lesões cutâneas, submetidas a exame histológico.

Foram identificadas as seguintes lesões pré-cancerosas: queratose solar actínica (8 casos), cornocutâneo (2 casos), lesão induzida por HPV (1 caso), nevomelanocítico atípico (7 casos) e nevo melanocítico congénito (2 casos). Além disso, encontraram-se as seguintes lesões cancerosas: CEC in situ (1 caso), CBC (3 casos) e MM (3 casos)[23]. Este estudo, focado na prática de pequena cirurgia nos CSP, demonstrou que é possível estender a deteção precoce e o tratamento de neoplasias cutâneas aos CSP, prática esta muito generalizada na Austrália, Espanha e no Reino Unido[23]. Para além deste estudo, existe ainda um estudo-piloto transversal (2018-2019) apresentado em 2022 nas Jornadas Patient Care[24], onde foi realizado um rastreio aos utentes de 57 anos da USF em questão (n=341), tendo sido referenciados à Dermatologia um total de 17 utentes, apresentando 2 casos de MM, 3 casos de CBC e 17 lesões pré-malignas. Este estudo permitiu ainda diagnósticos de novo de outras patologias cutâneas, nomeadamente neurofibromatose tipo 1 (n=1), Psoríase (n=3), Dermatite de Contacto (n=1), entre outras (n=24), demonstrando a pertinência do estudo e a importância da MGF na avaliação sistemática e organizada da pele[24].

Depois deste enquadramento, passo a explicar o projeto. Trata-se da implementação das técnicas de dermatoscopia para detetar lesões cutâneas com sinais suspeitos de malignidade, pelos 6 médicos envolvidos no projeto aos seus doentes com 18 ou mais anos de idade, selecionados de forma aleatória. Na primeira parte do projeto será adquirido o material necessário e será feita formação em dermatoscopia aos Médicos de Família que participam. Na parte seguinte do projeto, serão selecionados 3 doentes por dia aos quais serão aplicadas as técnicas de dermatoscopia para deteção precoce de lesões com sinais suspeitos de malignidade. Esta parte do trabalho terá uma duração aproximada de 9 meses. Na parte final do projeto todos os dados recolhidos serão analisados, respeitando as regras da proteção de dados, de modo a resultar num trabalho de investigação que será depois apresentado em congressos nacionais e/ou internacionais. É nosso objetivo também a divulgação deste projeto e dos respetivos resultados obtidos, para que se possa melhorar a deteção precoce do cancro da pele ao maior número possível de doentes.

 

REFERÊNCIAS:

  1. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global Solar UV Index: A Practical Guide. Switzerland: ISBN 92 4 159007. [consultado em 17-01-2022]. Disponível em https://www.who.int/uv/publications/en/UVIGuide.pdf;
  2. LIGA PORTUGUESA CONTRA O CANCRO. Lisboa. [consultado em 17-01-2022]. Disponível em https://www.ligacontracancro.pt;
  3. ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DO CANCRO CUTÂNEO. Como reconhecer o Cancro da Pele. Porto. [consultado em 17-01- 2022]. Disponível em https://www.apcancrocutaneo.pt/index.php/prevencao/como-reconhecer;
  4. EUROMELANOMA. European Association of Dermato Oncology (EADO). [consultado em 17-01-2022]. Disponível em https://www. euromelanoma.org/portugal;
  5. SISKIND V et al. (2011) Nevi, family history, and fair skin increase the risk of second primary melanoma. J Invest Dermatol 131:461-467;
  6. FITZPATRICK TB et al. (Ed.) (2003) Fitzpatrick’s Dermatology in General Medicine. 5th. Ed. McGraw-Hill;
  7. TUONG W, et al. (2012) Melanoma: Epidemiology, Diagnosis, Treatment, and Outcomes. Dermatol Clin. 30:113-24;
  8. SOUSA M et al. (2014) Appearance of de novo dysplastic spitzoid compound naevus in an adalimumab-treated psoriatic patient: Case report and review of the possible causal relationship with TNF-α blockers. Australas J Dermatol 55(2): 156-7;
  9. GRIFFITH CF (2022) Skin cancer in immunosuppressed patients. JAAPA 1;35(2):19-27;
  10. MEYER T, STOCKFLETH E (2021) Light and Skin. Curr Prob Dermat 55:53-61;
  11. STOLZ W, et al. (1994) ABCD rule of dermatoscopy: a new practical method for early recognition of malignant melanoma. Eur J Dermatol, 4: 521-527;
  12. LANSSENS S, ONGENAE K (2011). Dermatologic lesions and risk for cancer. Acta Clin Belg 66(3):177-85;
  13. REINEHR CPH, BAKOS RM (2019) Actinic keratoses: review of clinical, dermoscopic, and therapeutic aspects. An Bras Dermatol, 94 (6):637-657;
  14. CACCAVALE S et al. (2021) Cutaneous Melanoma Arising in Congenital Melanocytic Nevus: A Retrospective Observational Study. Dermatol 237(3):473-478;
  15. HABIF TP (2012) Dermatologia Clínica. Tradução de MIC Nascimento. 5. Ed. Nevos e Melanoma Maligno. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. Cap. 22. p.847-90;
  16. DORRELL DN, STROWD LC (2019) Skin Cancer Detection Technology. Dermatol Clin 37(4):527-536;
  17. PUIG S et al (2007) Melanomas that failed dermoscopic detection: a combined clinicodermoscopic approach for not missing melanoma. Dermat Surg 33(10):1262–73;
  18. WALTON AE et al (2014) Uptake of skin self-examination and clinical examination behavior by outdoor workers. Arch Environ Occup Health 69:214-22;
  19. DUARTE AF et al. (2017) Euromelanoma em Portugal 2010-2016. Revista SPDV 75(4):345-355;
  20. MATSUMOTO M et al (2022) Five-year outcomes of a melanoma screening initiative in a large health care system. JAMA Dermatol [Published online April 6];
  21. BECEVIC M et al (2021) Melanoma Extension for Community Healthcare Outcomes: A Feasibility Study of Melanoma Screening Implementation in Primary Care Settings. Cureus 13(5):e15322;
  22. MADEJA J et al (2020). Does screening by primary care providers effectively detect melanoma and other skin cancers? – Clinical Inquiries. J Family Practice 69(2):E10;
  23. NEVES AC et al (2011). Detecção precoce de neoplasias cutâneas em cuidados de saúde primários. Relato de uma experiência. Rev Port Clin Geral 27:381-7;
  24. SEREJO RF et al (2022). Rastreio de Cancro Cutâneo nos Cuidados Primários de Saúde. E-Poster. 26 Jornadas Patient Care. Lisboa, 7-8 Abril 2022

8.º Curso de Cirurgia e Cosmética Dermatológica

Organizado pelo Centro de Saúde Militar de Coimbra, o 8.º Curso de Cirurgia e Cosmética Dermatológica irá decorrer de 21 a 22 de outubro no Hospital Militar Regional nº2.

O evento é composto por sessões de casos clínicos, sessões teóricas e sessões práticas, que passam por “Biópsia do aparelho ungueal”, “Cirurgia micrográfica de Mohs”, “Cosmética capilar (tintas, alisamentos, champô seco, sem sal, outros)”, ou “Fototerapia em Portugal / Experiência com o Excimer 308 nm”.

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Alopecia areata: Patient-Reported Outcomes e avaliação clínica

Em doentes com alopecia areata moderada a grave que participaram no ensaio clínico de fase 2a ALLEGRO, resultados das avaliações médico e auto-relatadas mostraram melhorias significativas dos doentes sob tratamento ativo, de acordo com os achados do estudo publicado no Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology.

A alopecia areata (AA) é frequentemente associada a menor qualidade de vida relacionada com a saúde (HRQoL), incluindo ansiedade e depressão. O ensaio clínico de fase 2a ALLEGRO (ClinicalTrials.gov Identifier: NCT02974868), que investiga a segurança e eficácia de ritlecitinib e brepocitinib em adultos com AA, não avaliou correlações entre os outcomes auto-reportados pelos doentes e os médico-reportados. Os investigadores procuraram examinar o score Alopecia Areata Symptom Impact Scale (AASIS), uma ferramenta de patient-reported outcome, assim como o score de avaliação clínica designado Severity of Alopecia Tool (SALT), e avaliar possíveis correlações.

Para o efeito, os autores realizaram uma avaliação post hoc retrospetiva dos scores AASIS e compararam esses resultados com os scores SALT previamente avaliados no estudo aleatorizado, com dupla-ocultação, controlado por placebo e multicêntrico ALLEGRO trial, desenvolvido nos EUA, Canadá e Austrália. Nele foram incluídos 142 doentes adultos até aos 75 anos de idade, cuja perda de cabelo por AA envolveu ≥50% do couro cabeludo durante sete anos ou menos quem não tenha experienciado um crescimento espontâneo nos últimos meses.

Os dados demográficos entre as coortes de tratamento [ritlecitinib (n = 48) e brepocitinib (n = 47)] e placebo (n=47) são equilibrados para a idade (intervalo médio, 34-38 anos), sexo (feminino, intervalo 62 %-77 %), e raça (caucasiana, 77 %-96 %). Porém, desviado do protocolo, 3 de 47 doentes no grupo placebo apresentam um episódio atual de queda de cabelo até 29,5 anos (inclusão de resultados outlier pode distorcer a análise estatística), e 1 doente na coorte ritlecitinib com um episódio atual de 7,5 anos.

“As diferenças médias dos Mínimos Quadrados (least-squaresvs. placebo à semana 24 foram calculadas para o score global AASIS, 4 subescalas de scores e 13 scores em itens individuais nos grupos de tratamento ativo, utilizando o modelo misto para medidas repetidas”. O coeficiente de correlação de Pearson (valores r) foi o utilizado para avaliar a relação entre os scores AASIS e SALT.

Notou-se que os scores AASIS e SALT na linha basal foram semelhantes nas coortes de tratamento.  Na semana 24, os scores AASIS melhoraram significativamente para as coortes de tratamento (diferenças médias least-squares vs. placebo para ritlecitinib, -0,8 para -2,3; brepocitinib, -0,9 para -3,7; P <0,05 para todos).

A média do score SALT [desvio padrão] melhorou à semana 24 comparando com a linha basal (ritlecitinib, 54,4 [40,3] vs. 89,4 [15,8]; brepocitinib, 31,9 [35,7] vs. 86,4[18,1]). “Os coeficientes de correlação entre o AASIS global, as subescalas e os scores SALT à semana 24 variaram entre 0,34 e 0,58; P <0,05 para todos,” disseram os investigadores. (Coeficientes de correlação entre 0,5 e 0,7 indicam correlação moderada. Coeficientes de correlação entre 0,3 e 0,5 indicam baixa correlação.)

As limitações do estudo incluem viés na seleção de resposta AASIS, viés de ambiguidade nas questões AASIS, incapacidade de interpretação dos scores AASIS e incapacidade de avaliar melhorias com questões AASIS não relacionadas com a perda de cabelo. Mais ainda, o pequeno tamanho da amostra relativa a doentes que foram predominantemente caucasianos e do sexo feminino requer cautela na generalização dos resultados.

Os investigadores reportaram que a sua análise “mostrou que os doentes com AA que foram aleatorizados para o inibidor JAK3/TEC ritlecitinib ou para o inibidor TYK2/JAK1 brepocitinib no estudo ALLEGRO reportaram uma melhoria significativa na média do score global AASIS, nas suas subescalas e nos scores SALT após 24 semanas de tratamento, quando comparado com doentes aleatorizados para placebo.”

 

Referência

Winnette R, Banerjee A, Sikirica V, Peeva E, Wyrwich K. Characterizing the relationships between patient-reported outcomes and clinician assessments of alopecia areata in a phase 2a randomized trial of ritlecitinib and brepocitinib. J Eur Acad Dermatol Venereol. Published online January 9, 2022[RS1]. doi:10.1111/jdv.17909

21.º Congresso Nacional de Dermatologia e Venereologia realiza-se em novembro

O 21.º Congresso Nacional de Dermatologia e Venereologia realiza-se nos dias 11, 12 e 13 de novembro no Sheraton Porto Hotel. A data para envio de resumos e para inscrição bonificada termina a 26 de setembro.

Em comunicado, António Massa, membro da comissão organizadora e presidente da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia, refere que para o evento “está programada uma sessão com internos de alguns países europeus e já sabemos que, mesmo não sendo possível contar com a presença de todos, pretendemos que este seja o embrião de uma troca de vivências entre internos e direções de sociedades amigas”.

Além disso, “ocorrerá também uma sessão com membros do CILAD, para promover o Congresso de 2026, em setembro ou outubro” e para o qual, António Massa espera que seja “um grande sucesso e traga a Portugal cerca de quatro mil dermatologistas de todo o mundo, em especial América Latina e Espanha”.

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Tiago Fernandes Gomes: Fatores associados a alergia de contacto a antifúngicos tópicos

Na área da alergia cutânea, Tiago Fernandes Gomes, do Serviço de Dermatologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), apresentou o trabalho “Fatores associados a alergia de contacto a antifúngicos tópicos”. Esta foi uma das comunicações apresentadas na Reunião da Primavera organizada pela Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (SPDV), nos dias 8 e 9 de julho.

Investigar a frequência de alergia de contacto a antifúngicos tópicos e os fatores associados, e avaliar reações concomitantes, foram os objetivos deste estudo retrospetivo realizado na Unidade de Alergia de Contacto do Serviço de Dermatologia do CHUC, entre janeiro de 2009 e abril de 2021.

Foram incluídos “doentes com dermatites possivelmente induzidas ou agravadas por antifúngicos tópicos que tivessem realizado testes epicutâneos especificamente” para esses fármacos, e também doentes com dermatites do pé submeti[1]dos a testes epicutâneos com a série de calçado, que incluiu econazol e miconazol”.

“Os testes foram realizados de acordo com as normas da Euro[1]pean Society of Contact Dermatitis (ESCD), com leituras realizadas no segundo e no quarto ou quinto dia nos primeiros anos (2009-2018), e mais recentemente (2019-2021), no terceiro e sétimo dia”, explicou, continuando: “Recolhemos dados relativos ao índice de MOAHLFA, particularmente a localização da dermatite, especificando-a entre mão, face, perna ou pé”.

Quanto aos resultados obtidos, Tiago Fernandes Gomes referiu que “foram testados cerca de quatro mil doentes na Unidade de Alergia de Contacto, dos quais 482 doentes foram testados com antifúngicos tópicos”, sendo que estes últimos “eram doentes mais velhos, com menos atopia, menos eczema da mão e da face, e mais eczema da perna e do pé”. Dentro deste último grupo, 27 doentes apresentaram alergia de contacto a antifúngicos e quando comparadas as variáveis, observou-se “que o eczema do pé foi estatisticamente mais frequente”, em cerca de 40%.

Especificamente sobre as reações positivas aos antifúngicos tópicos, notou-se que “o nitrato de econazol, o miconazol, o clotrimazol e o tioconazol foram os mais frequentemente encontrados”. Além disso, houve “15 doentes com reações positivas a dois ou mais antifúngicos tópicos” e, “mais uma vez, o econazol, o miconazol e o tioconazol foram os mais frequentes”. “Um aspeto interessante é que cinco das reações ao tioconazol não teriam sido detetadas se não tivéssemos feito testes especifica[1]mente para o tioconazol”, realçou. Depois de apresentar outros resultados, Tiago Fernandes Gomes concluiu a sua comunicação oral, assinalando:

› A alergia de contacto a antifúngicos tópicos não foi comum (<1%);

› Ainda assim, recomenda-se que os doentes sejam testados, principalmente se tiverem dermatite do pé;

› Sugere-se que o rastreio seja feito com econazol e tioconazol (em vez de econazol + miconazol);

› Deve ter-se também em atenção doentes com alergia de contacto a imidazóis porque mais de metade destes têm sensibilizações a ≥ antifúngicos tópicos. E, portanto, estes doentes devem ser testados com testes epicutâneos com uma série alargada de antifúngicos tópicos para se encontrar o antifúngico ideal para o tratamento da dermatite.

O evento deu destaque ao trabalho desenvolvido pelos Serviços de todo o país, em sessões de Comunicações Orais para apresentação de estudos que abrangeram tópicos como a doença inflamatória e a alergia cutânea, entre muitos outros. Saiba mais na edição 133 do Jornal Médico.

Miguel Nogueira: “indivíduos com psoríase apresentam alterações no perfil de expressão de diversos miRs”

Com o tema “Impacto do tratamento da psoríase nos níveis de microRNAs”, Miguel Nogueira, do Serviço de Dermatologia e Venereologia do Centro Hospitalar e Universitário do Porto, introduziu o tema da sua comunicação oral, centrada num estudo cujo principal objetivo é “compreender o impacto da epigenética na psoríase”. Esta foi uma das comunicações apresentadas na Reunião da Primavera organizada pela Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (SPDV), nos dias 8 e 9 de julho.

“Venho apresentar-vos os resultados preliminares de um trabalho a ser desenvolvido em conjunto pelo Serviço de Dermatologia e Venereologia do Centro Hospitalar Universitário do Porto e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar”.

Segundo o palestrante, “a epigenética engloba um conjunto de mecanismos moleculares que regulam a expressão génica, mas que são extrínsecos à sequência de DNA”. Dentro dos vários “mecanismos epigenéticos atualmente conhecidos, os microRNAs (miRs) correspondem a moléculas não codificantes que funcionam como reguladores pós-transcricionais da expressão génica. E, portanto, poderão desempenhar um papel no controlo de diferentes processos biológicos com um impacto significativo na resposta imune”, esclareceu, acrescentando: “Indivíduos com psoríase apresentam alterações no perfil de expressão de diversos miRs, como são exemplos o miR-21 e o miR-146a”.

Assim, procurou-se “avaliar o perfil de expressão de diversos miRs – miR-21 e miR-146ª – em indivíduos com psoríase, comparando com uma população controlo”, bem como “avaliar a variação do perfil de expressão desses miRs em indivíduos com psoríase tratados com adalimumab ao longo de 24 semanas” e, ainda, “identificar possíveis correlações entre os níveis dos miRs avaliados e a resposta clínica observada”. Para isso, de acordo com Miguel Nogueira:

› A gravidade da doença foi avaliada recorrendo a indicadores clínicos PASI e BSA e indicadores analítivos rácios neutrófilos-linfócitos (RNL) e plaquetas-linfócitos (RPL);

› Os níveis séricos de miR-21 e miR-146a foram analisados recorrendo a técnicas de biologia molecular;

› Foi investigada uma possível correlação entre os níveis de miRs com os dados clínicos de gravidade da doença:

› Foram utilizados testes paramétricos e não-paramétricos consoante distribuição de variáveis.

“O nosso estudo demonstrou que indivíduos com psoríase apresentam alterações no perfil de expressão de diversos miRs, comparando com uma população controlo, que a melhoria clínica observada em doentes com psoríase tratados com adalimumab associou-se à alteração do perfil de expressão dos miR-21 e miR-146a”, declarou o palestrante, dando a conhecer outras conclusões: “Existiu uma correlação inversa entre o miR-146a à semana 0 e o índice PASI à semana 24”, foi outra das conclusões tiradas neste estudo que se mantém “a decorrer com um maior número de doentes sob tratamento, visando esclarecer se estes resultados se confirmam com uma maior coorte de doentes e se são sustentados ao longo do tempo (extensão até às 48 semanas), se existem outros miRs que poderão ter relação com a psoríase e que poderão ter um papel como biomarcadores de diagnóstico, e se os diversos miRs poderão servir como biomarcadores de resposta ao tratamento (particularmente, se determinados miRs poderão indicar qual o melhor tratamento para cada doente)”.

O evento deu destaque ao trabalho desenvolvido pelos Serviços de todo o país, em sessões de Comunicações Orais para apresentação de estudos que abrangeram tópicos como a doença inflamatória e a alergia cutânea, entre muitos outros. Saiba mais na edição 133 do Jornal Médico.

Inês Aparício Martins: “Tabagismo passivo e hidradenite supurativa” em destaque na Reunião da Primavera da SPDV

Decorreu, entre 8 e 9 de julho, a Reunião da Primavera organizada pela Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (SPDV). O evento deu destaque ao trabalho desenvolvido pelos Serviços de todo o país, em sessões de Comunicações Orais para apresentação de estudos que abrangeram tópicos como a doença inflamatória e a alergia cutânea, entre muitos outros. “Tabagismo passivo e hidradenite supurativa” foi o tema do trabalho apresentado por Inês Aparício Martins, do Serviço de Dermatovenereologia do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC). Saiba mais na edição 133 do Jornal Médico.

Os objetivos deste trabalho foram “determinar a prevalência de tabagismo passivo nos doentes com hidradenite supurativa (HS), caracterizar a população de fumadores passivos e investigar o papel do tabagismo (ativo vs. passivo vs. não fumadores) na idade de início e gravidade da doença ao diagnóstico. Para isso, foi realizado um estudo observacional retrospetivo que englobou “doentes acompanhados em consulta de HS do CHULC entre janeiro de 2014 e maio de 2022”.

“Numa fase inicial, foram identificados os doentes que se declararam como não fumadores numa primeira avaliação em consulta e, de seguida, foi realizado um inquérito telefónico a fim de avaliar se estes doentes estavam expostos de alguma forma ao fumo do tabaco”, explicou. Após descrever outros aspetos sobre os métodos utilizados, Inês Aparício Martins indicou que dos 266 doentes com HS incluídos, 71,1% eram fumadores (incluindo tabagismo atual e passado) e 28,9% não fumadores, e nestes últimos “o tabagismo passivo foi identificado em 53,2% dos doentes”, sendo que “esta exposição aconteceu maioritariamente em contexto familiar (87,8%)”.

As conclusões deste estudo foram: “Os não fumadores tendem a ter início da HS em idade mais precoce, o que pode ser explicado pela maior predisposição genética neste grupo de doentes; a exposição tabágica nos doentes com HS poderá ser maior do que o previamente descrito; este trabalho reforça a importância do tabagismo no desenvolvimento da HS, nomeadamente o passivo que, até agora, não estava descrito na literatura e, pela sua prevalência, deve ser inquirido durante a anamnese”.