Diogo Matos: Psoríase e o impacto da adesão à terapêutica na qualidade de vida dos doentes
Leia o artigo de opinião da autoria de Diogo Matos, dermatologista no Hospital da Luz de Setúbal, acerca da Psoríase e das implicações no quotidiano de quem vive com a doença e em como uma abordagem médica multidisciplinar pode fazer toda a diferença.
A Psoríase, dada a sua prevalência (cerca de 250 mil portugueses) e a sua cronicidade, é um dos principais motivos de consulta de Dermatologia, sendo também uma patologia cutânea muito frequente nos cuidados de saúde primários.
O seu diagnóstico é, na maioria dos casos, linear. As lesões cutâneas espessas, eritematosas e descamativas (branca-prateada) são patognomónicas, sendo que a distribuição das mesmas, predominantemente nos cotovelos, joelhos e couro cabeludo, também facilita o diagnóstico.
Todavia, é de extrema importância a abordagem da Psoríase como uma doença sistémica e global. É mandatório ver para além do seu impacto estético, embora este por si só possa impactar seriamente a vida e autoimagem dos doentes, levando por vezes a quadros de ansiedade e/ou depressivos, sem que haja uma relação direta com a gravidade da doença. Cerca de 10-30% dos doentes têm Artrite Psoriática, com artralgias, artrite e rigidez, tornando fundamental a sua pesquisa em todos os doentes com Psoríase, bem como o ensino de sinais de alarme, para que o doente consiga identificar precocemente o envolvimento articular.
Adicionalmente, sabe-se que os doentes com Psoríase têm mais frequentemente doenças cardiovasculares, nomeadamente Hipertensão Arterial, e metabólicas (Dislipidémia, obesidade abdominal e Diabetes ou pré-Diabetes-resistência à insulina). De uma forma global, a Psoríase é um fator de risco independente para a síndrome metabólica.
Assim, a visão do doente psoriático como um todo, e o seu seguimento e tratamento transversal e multidisciplinar, com o objetivo de controlar, não apenas as lesões cutâneas, mas todas as comorbilidades sistémicas, as quais podem influenciar negativamente a sua esperança e qualidade de vida.
Os tratamentos disponíveis têm sofrido uma evolução considerável sendo raro não se conseguir atingir um sucesso terapêutico satisfatório, tanto para o doente, como para o médico assistente. Desde os fármacos tópicos, frequentemente suficientes no controlo da doença mais ligeira, até aos fármacos sistémicos (orais ou injetáveis), o armamentário terapêutico tem vindo a aumentar em número e eficácia.
Contudo, tão ou mais importante do que a efetividade dos tratamentos disponíveis, é a adesão à terapêutica. Sem esta, o controlo da doença fica muito limitado. Diversos fatores contribuem para esta adesão, nomeadamente a comodidade e simplificação posológica, mas talvez o mais importante seja o envolvimento e a abordagem multidisciplinar, com uma comunicação uníssona, embora complementar. Toda a equipa que segue o doente com Psoríase deve estabelecer esforços para que as suas abordagens terapêuticas sejam implementadas, assim como da restante equipa. Só assim é possível um controlo global destes doentes e modificar positiva e significativamente a sua vida.