Quando a urticária é e não é uma alergia

Habitualmente “os médicos quando veem uma urticária pensam logo em alergia. É importante saber-se que nem sempre é assim”, afirma a diretora do Serviço de Dermatologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) em declarações ao Jornal Médico no decorrer da sua intervenção nas Jornadas de Alergologia de Contacto com a palestra designada por “Quando a urticária é uma alergia”.
Há mais causas para que ocorra urticária, recorda a dermatologista, explicando que para determiná-las há que excluir a urticária crónica – seja espontânea ou indutível –, mas sim pensar nas urticárias agudas, existindo igualmente inúmeras causas para o seu aparecimento “nomeadamente infeções ou outras doenças subjacentes que também podem originar” a patologia inflamatória. Adita que, fundamentalmente, aos profissionais de saúde interassa-lhes as que aparecem após exposição a agentes exógenos, nomeadamente fármacos e alimentos.

A dermatologista faz a distinção quanto a uma urticária alérgica mediada por IgE, da urticária que resulta de uma estimulação inespecífica do mastócito: quando a urticária é mediada por IgE, por exemplo em situações de uma urticária à penicilina, a um alimento, entre outros, “habitualmente são situações que surgem de forma imediata, podendo evoluir e generalizar e, eventualmente progredir para situações graves, concretamente um choque anafilático”; por outro lado, outras urticárias não alérgicas que resultam da estimulação direta do mastócito pela ativação direta de recetores “são reações que demoram mais a surgir – habitualmente só quando se atinge o nível alto de estimulação de grandes concentrações do fármaco, resultando na desgranulação do mastócito de forma significativa para se ter expressão cutânea e raramente progridem para anafilaxia que é potencialmente fatal –, e raramente progridem para anafilaxia que é potencialmente fatal.

Deste modo, reforça a mensagem de que a urticária crónica fica de lado em situações de alergia, afirmando que está provado tratar-se de um mecanismo autoimune envolvido e identificado em, pelo menos, em 80 a 90% das urticárias.
Para que o diagnóstico, muitas vezes moroso por se ir à procura de uma alergia, possa ser feito e o doente seja referenciado e a sua urticária crónica tratada convenientemente, a médica deixa recomendações aos especialistas de Medicina Geral e Familiar que se deparem com este tipo de ocorrências na sua prática clínica: “as urticárias agudas alérgicas aparecem e desaparecem ao fim de poucos dias”. Já as urticárias que perduram por vários dias e, eventualmente, várias semanas, não são alérgicas e carecem de um estudo de base. Posto isto, conclui que na maioria dos casos as urticárias são provocadas por uma reação autoimune, informando que em momentos em que não surjam remissões de sintomas provocadas por anti-histamínicos, o procedimento seguinte induz na referenciação rápida em centros e junto de profissionais com outros meios para tratar a doença.